A história do Galo Chico é uma história dentro de outra história que está atrelada às várias histórias que ouvi e vivi depois de ser professora da UFRRJ.

Tudo começou quando li Noé, de Miriam da Silva Pires, livro publicado pela Edur. A beleza dos versos da minha grande amiga e a qualidade das ilustrações que os acompanham provocaram em mim um desejo de criar um texto em que a sonoridade dos fonemas desenhasse a narrativa. Eu fechava os olhos e imaginava os sons brincando em um jogo em que se destacavam diferentes consoantes. As palavras se apresentavam para mim e eu ia encaixando-as como se fosse um quebra-cabeça. Criei assim, em uma tarde de janeiro de 2013, a primeira versão do Galo Chico. Liguei para Mirian e li para ela o texto que acara de escrever.

Ela disse: – A história está pronta!

Mas ao longo do processo editorial, entendemos que o segredo de Chico deveria ficar claro para as crianças, estando, nessa primeira versão, muito escondido. Assim foi que complementei a narrativa.

Na verdade, escrever para criança exige do autor uma cumplicidade com ela, porque para encantá-la há de se ter conhecimento não só das estratégias linguísticas de aspecto literário, mas também do que desperta nela uma sensação de proximidade com suas expectativas de leitor. Como foi a primeira experiência de escritora de livro infantil, espero ter acertado o ritmo da narrativa. Espero que o meu leitor se delicie com a leitura. Infelizmente Mirian não poderá mais ler o texto para me dizer se gostou da versão final, se gostou ou não da ilustração, porque, em uma tarde de fevereiro de 2013, decidiu ir embora para nunca mais voltar. O Galo Chico transformou-se, assim, numa história de saudade, mas de agradecimento também. Ainda há outras história de saudade: a do meu marido, cujo apelido, Chicão, motivou o nome do Galo Chico. Infelizmente, ele também decidiu ir embora para nunca mais voltar. Este livro passou a significar para mim uma continuidade metafórica de voo antecipado de pessoas tão queridas.